O encontro do amor com o sofrimento.


Salvador, 1987.


PRÓLOGO


Percebo que o amor não é parte, nem essência, nem secreção do corpo dos animais, como é o suor, a lágrima, o sangue, o tesão e o carinho. O amor tem a ver com a vida. Deve ser algum perfume, alguma força, uma energia especial que a vida exala. As pessoas é que estão ou não estão abertas para o amor. Quando o amor invade uma pessoa, a dor desaparece. E junto com a dor desaparecem a raiva, a inveja e a mentira, que são as causas do sofrimento. Com amor a pessoa é inteira, é alegria. Sem amor é sofrimento.

O breve encontro do amor com o sofrimento se dá além da sensibilidade das pessoas. O sofrimento saindo e o amor chegando é como o último nascer da lua minguante, que acontece no céu de nosso hemisfério, nos primeiros clarões do amanhecer. A lua minguante do sofrimento – na forma de uma pequenina canoa prateada de pontas agudas como espinhos - surge navegando o céu, um pouco acima da linha do horizonte e desaparece completamente, quando irrompe o amor na claridade da manhã.

“As Candíadas” é o amor chegando a Cândido, recuperando-se da dor implacável da separação. É o último amanhecer daquela dor minguante de Candinho, dor que os pincéis de Luiz Britto transformaram num ramo de flores no asfalto, um ramo colorido que amanheceu orvalhado, para se despedir de Cristina, embaixo de sua janela. É o mesmo amor manhã que canto agora, em versos, sobre folhas de papel.





1   CANDÍADAS

Está em todo tempo
e no espaço infinito
um animal à galope
chamado sofrimento

um imenso animal
furioso e aflito
em crescimento
e fuga
em nossa direção

seguindo sem parar
os passos do destino
que traçamos para nós.

Quando nos alcança
só nos resta
ou temer a dor
entregar-se ao chão
e ser atropelado e morto
sem morrer
(para viver chorando
feridas incuráveis
cicatrizes sem fim)

ou agarrar com força a sua crina
abraçar sem medo o seu pescoço
e
no trepidar constante do seu dorso
domar a fúria da fera
e alcançar
o infinito prazer
de ser maior que ela                        

e lá
no mais alto dos céus
acima de todas as coisas

acima da dor e do destino

galopar desconhecida e linda pradaria

e se ver assim no alto
um novo ser sozinho
vendo a vida
além de onde a vista alcança

e a morte
como um simples passo
no começo do caminho.




2

Vinha um sorriso nela
e seu olhar também sorria

mas eu passava indiferente
tão indiferente a mim e a ela
como quem chega ao coração
para fechar uma janela.




3

Sem circunstância
numa monotonia
atenta e parada

repetindo toda vez
o que nunca ninguém fez

Enquanto a alegria,
a doce e eterna
alegria,
enterrada no velho,
no superado desconhecido eu,

era apenas um sonho estéril,
sem mensagem,
um sonho a mais
que se perdeu.




4

Se eu não existisse
Deus não existiria

mas existo!
e se existo
é pelo simples acaso
do encontro
da ilusão do tempo
com a solidão do espaço

e porque
e unicamente porque existo

invento
creio
e crio

eu criador
deus criatura

o deus
que está
e é deus
eternamente
dentro de mim.

Inventei
também
a minha loucura
e ela me procura,
e encontra a minha morte
a única sorte
inevitavelmente minha.

e se eu não existir
depois da morte,
o único
e eterno Deus
morrerá comigo.





5

Não sei
se quero
ou se não quero

pior
é não saber
se meu querer
ou não querer
é ou não é
sincero.






6

Um poste,
um poste aceso,
é tão indiferente
à rua
como uma lâmpada -
uma lâmpada acesa
ao poste -
é indiferente
à lua

estou
tão ausente
e indiferente assim
como um poste -
um poste apagado -
a uma lâmpada
acesa em mim.





7

Sonhar,
deixar-se envolver
num turbilhão de nuvens
trazidas pelo vento.

Sentir,
despertar numa confusão de sonhos
e seguir
na direção do vento

e não pensar
ser somente agora
e seguir os sonhos
porque a vida é feita de sonhos
de sonhos esquecidos
e de nossos sonhos
realizados por outras pessoas.

Viver,
dormir com a morte
e sonhar.




8

O tempo fica tarde
a noite é muito fria

na mesma sala deserta
há uma pessoa imóvel
numa cadeira vazia.




9

Estou só
só como uma praia deserta

dentro de mim 
a solidão é bela,
bela como uma praia deserta

e absolutamente necessária
como a noite que vem ao céu
para apagar as ilusões do sol.

Estou só
só como um céu sem nuvens
como a solidão de estrelas

dentro de mim
a solidão é abrigo

estou só,
inteiro e só.

embaixo do céu estrelado,
estou só comigo.




10

Não sinto necessidade
de ter um caminho
de abraçar as dúvidas
e seguir o caminho
como náufrago em correnteza
a lugar algum.

Nem sinto vontade
de deixar as dúvidas
no silêncio

melhor é voar sobre elas
vê-las de cima
e depois desaparecer
como um rosto esquecido.

E um rosto esquecido
é apenas um instante
um eterno instante
que não se viveu.

Dissolvo minhas dúvidas
em contemplação do nada
e afasto a solidão do sofrimento
para viver tudo o que me abraça,
mas só neste momento.

Quando comecei a ouvir
o silêncio dos miseráveis
alguma coisa qualquer,
qualquer coisa,
desceu sobre meus ouvidos
meus olhos
e cobriu meu rosto
com a sombra
de uma mulher.

Desde então
eu era o mundo
e o mundo era
um coração vazio

e vozes na minha cabeça.

Vim para dentro de mim
e conheci
outras verdades.
Aprendi a ver
com minha cegueira

até que um dia
eu quis viver,
abandonar a sala de espera

e ter uma idéia do mundo
de mim mesmo
e da vida

mas o que senti
foi a miséria humana
mais presente em mim

mas não importa:

para quem é caminho
não há necessidade
de buscar caminhos.
basta abraçar as dúvidas
e viajar com elas
neste infinito agora

para viver a eternidade
como um rosto esquecido,
ou chegar ao fim.

porque
eternidade e fim
são apenas mais uma sombra
que desce
sobre um rosto esquecido.





11

Antes que aconteça algo de novo,
quero pensar
que tudo foi uma coisa triste
e que não há mais nada.

antes que amanheça,
quero duvidar desta noite
como se eu lá não estivesse
por tanto tempo
entre as estrelas

antes de pensar em ser
um ego qualquer,
ou qualquer coisa
quero duvidar de mim
para não voltar a ser
um motivo qualquer
para esquecer

antes que apareça algo de novo
quero pensar que tudo
foi uma coisa triste
e que não há mais nada

e nada mais existe.





12

Esse dia
que foi manhã tão hoje
morre triste agora
e é o mesmo dia

o mesmo dia sem o sol.

e as pessoas
que passam pelas ruas
são as mesmas pessoas

as mesmas pessoas sem o dia,

pelos mesmos caminhos de volta.

Há nenhuma esperança de paz
fora de mim.
Continuo vivendo
com muita gente
inutilmente triste

a minha vida agora
é só um dia a menos
nessa mesma hora.

Esse dia,
que foi manhã tão hoje,
e que está morrendo agora
vem pelos mesmos caminhos
das coisas que já morreram
e a morte nunca demora.




13

Sinto
que você me olha
me trata
me cuida
me beija

querendo para eu nunca acabar

para você viver o seu infinito em mim
e eu ser o meu eterno em você.




14

Veja
já não está mais o sol além do horizonte,
a nossa sombra fugiu de nossos pés

a pálida luz que permanece
não nos aquece
como nos aquece a luz do sol visível
nem brilha
como brilha na noite a luz de sois distantes

sou como essa luz que permanece
espera apenas pela noite
e na noite desaparece

o amor é como a noite
a noite de um dia
que não anoitece.




15

No mar azul
a vela branca
ao longe vai

a vela branca
e solitária
cruza o vento
o mar
e a tempestade

e além do horizonte
a eternidade
e vai além.





16

Não adianta não querer lembrar
sua lembrança vem naturalmente
como a flor vem da semente
como a luz vem do luar

nem adianta não querer sentir
sua presença simplesmente está
em tudo que percebo
em cada lugar que eu chego
e onde eu quero chegar.

sei que vou lhe encontrar.

viver
me fez amar
amar
me faz crescer

e amar
é viver um simples momento em seus braços
ou reviver seus abraços longe de você.

amar
me faz sentir
na paz em seu silêncio
e nesse silêncio sem fim

que não adianta não querer lembrar
você simplesmente está
em tudo que sou de mim

eu nunca vou lhe esquecer.




17

Cada vida se desenha
nos passos que foram dados
e no caminho que ainda tenha
é bom ser homem em seus braços

eu sei
no espaço do coração
tanto querer parece ilusão
e o querer que eu tanto quis
amar, viver e ser feliz
a vida inteira ao seu lado
a felicidade sem fim
nunca passou de um sonho
um lindo sonho
que só viveu em mim.

a minha vida se desenha
nas marcas de nossos passos
e no caminho que não venha
foi bom ser homem em seus braços.





18  LAGOA DE PITUAÇU

Gosto de me remar eu barco na lagoa
serena e silenciosa como um pássaro adormecido
ver a proa desse barco cortar o espelho d’água
e o mundo deslizar em direção ao infinito

eu vivo como um barco viajando uma lagoa
navego a imensidão de um lago tão bonito
corta o tempo a vontade de minha proa
e sinto a música do espaço onde habito.

o vento sempre toca suave a minha testa
e derrama em meu rosto o breve aroma
que o bosque ao vento empresta

amo e sofro o silêncio do meu grito
sem sofrer o barco vive na beirada
eu vivo e moro no infinito.

19

Viver
lançar-se à dor
e à luta
e crescer

crescer como a torrente
que invade
e alaga
regiões desertas

e se expande
e se espalha
por entre as flores
e as luzes que desperta

a música infinita de ser

e vem
e vai
e volta
e é

como a cor lilás
do amanhecer.





20

Adeus
cantamos juntos tantas vezes
naquela vez que nós cantamos

Adeus
de tanto amar, paramos o tempo
o tempo alado que foi passando

Adeus
restam lembranças que vão ficar
ficará o adeus em nosso olhar

Amanhã eu sei você vai embora
o amanhecer será tristonho
será o fim de nosso sonho
que será sem fim até agora

Adeus
a noite faz questão de ser tão linda!
noite, noite, noite que não finda
ficarão as noites em minhas lembranças
e você será as noites que não se foram ainda.

Adeus
serei distante na despedida
para não ser meus olhos deixand’os seus
serei silêncio, minha querida
não quero ouvir de mim
esse meu triste
Adeus.





21  A PEDRA DO SINO

Chegamos ao topo da montanha
como náufragos empurrando a correnteza
e nos abraçamos à beira do penhasco
vencidos sobreviventes da tristeza.

embaixo, bem abaixo de nós dois
a cidade nos olhava pequenina
vulnerável como um brinquedo
você chorava - eu tinha medo

nuvens tangidas pelo vento
corriam em nossa direção
nos envolviam um ao outro assim ligados
como o silêncio abraçando a solidão.

preso como sou ao meu destino
senti vontade de voar ao encontro delas
lançar-me ao vento como se eu fosse a calmaria
ou um furacão abrindo uma janela

confessei esse desejo num sussurro
dar um salto - alargar a imensidão
como sonha um pássaro no cerrado
com um ninho todo feito de algodão.

abraçado a tantas nuvens
eu não despencaria
como uma pedra desprendida de um rebento
mas desceria lentamente lá do alto
como uma folha trazida pelo vento

e no lugar lá embaixo onde eu caísse
surgiria o velho tronco já sem cor
o mesmo tronco que encontramos no caminho
sendo berço e dando vida a uma flor

mas assim como sou, ao mesmo tempo
princípio e resto de mim mesmo
do meu tronco apodrecido brotariam
de uma vez - ao mesmo tempo - duas flores

duas flores sem perfume e passageiras
nascidas por acaso como nós
longe de jardins e longe de outras flores
mas perto do infinito e nunca sós

abraçada a mim você jurou
com o olhar sincero de quem chora
perpetuá-las com lágrimas de saudade
como quem espera o amor que foi embora.





23   CRISTINA.

Não escondo uma só lágrima do meu rosto
toda lágrima que em meu peito foi amor
nem lhe deixo a sombra do desgosto
que um dia, sem saber, você causou.

você vive a segurança do que é certo
eu provo o gosto de viver e ver desfeito
o impossível onde eu ando já bem perto
e o futuro que já descansa no meu peito

Não temo a morte - sua sina, minha sorte-
vivo por amar e amar viver.
se sofro por sua causa, não se importe

ninguém sabe, na verdade, o que se quer.
o homem vive a dor que o acompanha,
eu não me importo de chorar por uma mulher.





24 

Pare
não se vá
nem fale nada agora

ainda que todo tempo
seja apenas por enquanto

não se vá
fique em nosso canto.





25    ÁRVORE.

O tempo passa...
você voltará

como a luz do amanhecer
você voltará todos os dias

em todo tempo
tantas vezes
a cada instante
você voltará

preso ao chão como uma árvore
não seguirei o meu caminho

e cada vez que você voltar
estarei à sua espera
no mesmo lugar.

tenho um sonho
andar
andar
viver
crescer...

crescer à cada encontro
viver e ver além das descobertas
conhecer o sonho
compreender

preso como uma árvore
desfolhando o próprio sonho
não irei a lugar algum

ficarei a vida
à sua espera

até a minha última folha

e você
fugindo de mim e de você
viverá
a vida inteira
voltando ao mesmo lugar

para pisar
em folhas mortas.





26    ÁRVORES.

Sou um triste
que plantou raízes móveis

o rangido
o vagido
e o gemido
do meu caminhar
são sorrisos.

a minha tristeza é imensa
e se espalha

é um pé de pau
avoando foia seca.

27  ODE À FLORESTA.

O ar que exalo
não te alimenta
mas eu vivo do ar que tu me sopras
e me sustenta.

Vivemos um do outro
unidos e diferentes
como o ar
e a eterna chama
como o lume
e a lanterna


Mas eu
bárbaro suicida
sou um fogo passageiro
que devora
todo ar
de minha caverna





28

No inverno de minha vida
que acontece a qualquer hora
raras vezes -
                 no momento de viver
                 o limite de minha resistência
                 aos apelos da consciência
                 de tudo que é
                 e está em tudo
                 e ao pequeno ser humano
                 feito inútil, desarmado e crente,
                 o ser doente -
eu deixo de viver o meu instinto
só penso
perdendo o único momento de ser
o Alcione a construir seu ninho
enigma de vontade e desejo
no oceano que eu invento.

penso, penso, penso
construo em mim um abismo imenso
enquanto
meu instinto vive e cria
um rosto alegre para minha alma
que é distante e fria.

eu me vejo frente a frente
a mim
e nada entendo
pois enquanto meu corpo amava
minha alma mentia.





29

Debaixo das mangueiras em flor
no quintal de nossa casa
visto sua camisa azul
e passeio sobre folhas mortas.

ao longe, um vulto lilás atrás da porta
uma chama talvez, talvez o espectro de um gás.

a saudade é um frio medonho
um espaço sem cor, nem tamanho
de onde não volto, nem venho
por onde não vivo, nem sonho.

E depois
quando a noite chega ao quintal
sinto seu corpo tocar-me
no perfume que escapa da flor
no meu peito que se veste de amor
e se esconde do medo de amar

esperando você
esperando você
esperando você voltar.

mas o caminho de pés sobre folhas
a infinita distância de um pé a outro pé
o que me traz é uma chama lilás
sua inesquecível forma de mulher.




30    A CASA DA ARANHA.

A casa onde moro
é como a casa da aranha
ser cuja alma
tem a transparência da seda
e cuja casa
é feita com a seda
de sua própria alma.





31   JÚLIA

quando você está aqui
na Casa da Aranha
a felicidade ganha
um tamanho infinito

de dia
pelo azul do céu
ela se espalha
e faz o céu mais bonito.

à noite
felicidade brilha
em cada uma
das estrelas

e de manhãzinha
acordando como você
ela se espicha
se espreguiça
e sorri

tudo é mais lindo
quando você está aqui.

                   17. 01. 87




32

É bom ser pai.

ser pai é ser cúmplice do gozo
e é tantas coisa boas e más
que enriquecem o ato de viver
e não cabem num conceito.

E se não for tanto
ser pai é pelo menos
duas coisas além do divino
é ser pai e é ser filho

E há tanta força nisso
que nem Deus -
que é apenas pai -
ou Jesus -
que foi apenas filho -
podem imaginar.

Deus não sabe
o que é ser filho
Jesus não soube
como é bom ser pai.





33

Vivo a plenitude
de um quadro que não vejo

seu amor, nosso amor
é tudo que desejo

o amor infinito viajo na lembrança
e sigo o amor
como o amor segue uma criança.

encontro você a cada instante
e canto,  canto,  canto
canto o silêncio, a saudade, nossa vida

e canto o amor
ainda que não cante.





34

Vivo
vibro
amo você.

no céu
ao seu lado
adormeço

e durmo as noites
o tempo

o sonho que não esqueço
a felicidade que não finda.

e quando você me acorda
amanheço

e sou
num lugar melhor ainda.





35  UM CANTO DE AMOR AO ENCONTRO DO AMOR COM O 
          SOFRIMENTO.
                     

Quem passou pela vida em branca nuvem
E em plácido repouso adormeceu
Quem não sentiu o frio da desgraça,
Quem passou pela vida e não sofreu...
Foi espectro de homem, não foi homem,
Só passou pela vida e não viveu.
                   Francisco Otaviano


                              

                        1

A eternidade é um momento 
sem começo e sem fim
antes e depois de cada um de nós.

nesse momento
as pessoas são estrelas.
suportam a solidão do espaço
separadas por distâncias incalculáveis
e brilham
porque são infinitamente luz.
                E todos são, naquele momento


                           2

O amor atrai estrelas
e as transforma em criaturas
muitas na individualidade

únicas na diversidade

quando nasce uma criança
uma estrela desaparece                    
               E poucos vêm, naquele instante.


                               3
No convívio
as pessoas mergulham
na nostalgia da solidão originária
e se enfraquecem

necessitam estar juntas
e vivem juntas
apenas para iludirem
a evidência de ser

impondo a si mesmas
o limite do medo
que é a incerteza de ser.

E morrem
porque são temporariamente chama
esse pequenino fogo
que não aquece.

Assim são os homens.

quando o tempo faz o homem
a criança desaparece

                         E pocos sabem, naquele tempo.



                             4

O amor afasta as pessoas
da escuridão desse abismo.

devolve a certeza do sol,
eterno no que é luz

e que se consome e finda
apenas no que é chama.

O amor é a certeza de ser.
amar é voltar a ser criança,
é a ressurreição de uma estrela.

é ser infinitamente luz.
silêncio e luz.
é morrer no que acaba
e viver no que não finda.

é a essência imortal das criaturas
o sublime mistério
de voltar a ser
                  ver
                  e saber
além do espaço
além do tempo

e eu amo você

assim eu sou
assim eu sei
porque vivi.






36  LAGO DE SOBRADINHO

Atado à nave azul pela força da gravidade
viajo, navego, flutuo a eternidade
que é para mim um tempo sem tempo
um infinito lago

o mesmo tempo desmancha o corpo que eu trago
mutante, gregário, cheio de ferida.
mas eu não quero ser eterno como ser
já sou infinito sendo vida.